O presente trabalho tem como objetivo apresentar a poesia e enquanto possibilidade metodológica para o fazer antropológico. A partir do campo teórico que se consolidou na
Antropologia enquanto Estudos de Performance, a pesquisa aborda a escrita enquanto uma ação
descolonizadora, por meio de performances poéticas realizadas em saraus de rua e em Slans, em Aracaju, a partir de uma experiência sensorial. A trajetória que vai do
uso da poesia em primeira pessoa à construção de narrativas antropológicas, evidenciando
como essas linguagens, para além de suas dimensões artísticas, quando encaradas como ações políticas emancipadoras comportam um potencial gerador de rupturas e,
consequentemente, criador de uma ciência que não segrega tampouco compreende as vivências como formas subjetivas de conhecimentos.

Há uma repetição, em Machado: romance (2016), de Silviano Santiago, que se bifurca em imagem e palavra. Primeiro, vemos a tela Transfiguração (1517–

1520), de Rafael. Páginas depois — ao final do livro —, lemos o título do último capítulo, “Transfiguração”. Nessa parte, também lemos uma citação àquela tela: “A imagem do ser humano em vias de se transfigurar é delineada pela imaginação poética de Rafael por traços nítidos e vigorosos.” (SANTIAGO, 2016, p. 407). Não
há uso de écfrase nesse trecho, nem na maior parte do livro, exceto em páginas anteriores, quando o narrador divide a tela em dois extremos (metade superior
e metade inferior). O narrador, na biografia de Machado de Assis, prefere resistir à descrição minuciosa das imagens.

Esta pesquisa tem como principal objetivo revisitar a história da produção cinematográfica produzida na bitola super-8 em Aracaju, tomando como base de
discussão o período que compreende o início da década de 1970 e a primeira metade
da década de 1980, analisando as suas características e os elementos que estimularam
essas realizações. A partir da análise dos dados obtidos através de pesquisa bibliográfica, de busca em acervos pessoais e de entrevistas cedidas por alguns dos
realizadores do período, conclui-se que esses filmes, em sua maioria documentários, foram resultantes da apropriação de uma bitola criada para servir a fins domésticos, por parte das pessoas envolvidas nesse processo e que a existência de cineclubes locais e do Festival Nacional de Cinema foram fatores fundamentais para a produção dessas obras. Percebemos também o efeito agudo da falta de políticas públicas para a preservação audiovisual em Sergipano e as suas consequências para o desenvolvimento de uma historiografia do cinema sergipano e consequentemente, docinema aracajuano.

Fotografar, é olhar o que não se vê.
É não ser um mero passante, mas sim, um observador, com um olhar
apurado, como se fosse uma águia em busca de sua presa.
O Estado de Sergipe, apesar de sua pequena área territorial em comparação
aos outros do Brasil, possui uma grande diversidade de biomas.
Dentre eles, podemos citar a caatinga, o serrado, o sertão, o alto sertão, o
pantanal sergipano e a região das águas.